A onda do chamado treino funcional tem varrido os ginásios de todo o mundo. Há quem a tenha sabido surfar e há quem tenha mergulhado de cabeça e se encontre agora em águas profundas. Ao navegar nestas águas perde-se o pé e por vezes até mesmo a cabeça, sobretudo quando se defende uma só teoria e se nega todo o conhecimento considerado válido até então. Uma perspectiva afunilada e pouco abrangente torna-se naturalmente redutora. Nademos até à praia e olhemos para o enorme mar de conhecimento à nossa frente para tentarmos compreender tudo o que a nossa vista alcança.
O Pilates é um sistema de movimento que nos torna mais capazes
Para navegar neste mar é necessário um conjunto de ferramentas que permitam desfrutar de cada onda, nadar sem cansaço e flutuar tranquilamente. Reconhecer a importância das ferramentas e da sabedoria por detrás de cada escolha implica uma consciência sistémica. É esta consciência que nos permitirá “detectar e cartografar os padrões e ordem que jazem ocultos no interior do caos do mundo natural” (GOLEMAN, Daniel, Foco, 2014). Como nos conta Daniel Goleman: “Poucos momentos antes de o tsunami de 2004 varrer as ilhas que habitavam o oceano Índico, os moken (nómadas marítimos) perceberam que as aves tinham parado de cantar e que os golfinhos se afastavam para mais longe mar adentro… Por isso, meteram-se todos dentro dos seus barcos e viajaram também mar adentro, onde a onda do tsunami era mínima quando passou por eles. Nenhum moken ficou ferido.” Infelizmente sabemos que “houve outros povos – que há muito se tinham esquecido de ouvir as aves e de observar os golfinhos, bem como de compreender aquilo que estes faziam – e que morreram.”
É-nos difícil ter uma consciência sistémica, e muitas vezes os sistemas são mesmo invisíveis para nós o que nos leva a recorrer a modelos mentais para interpretar a realidade. Seremos tanto mais bem sucedidos nas nossas acções quanto mais dados tivermos à mão na hora de decidir.
O Pilates é um sistema de movimento que nos torna mais capazes. Uma visão global deste sistema é indispensável para compreender a sua verdadeira riqueza.
Saquemos dos binóculos para ver ao pormenor o que torna o Pilates um sistema tão valioso:
- vocabulário próprio de movimento: o Pilates tem um repertório original de exercícios no colchão e em peças de equipamento exclusivas
- linguagem universal: um Hundred (exercício clássico) é igual numa aula em Lisboa ou em Pequim
- comunidade mundial: o Pilates está espalhado por todo o mundo e os seus praticantes partilham a mesma linguagem
- processo de aprendizagem: do nível iniciado até ao de praticante avançado passamos por muitas etapas. Durante esse processo somos desafiados com novos elementos e a pouco e pouco acumulamos conhecimento sobre o método e inclusivamente sobre nós próprios: como reagimos à novidade, à frustração, como nos mantemos motivados e como alimentamos a curiosidade para continuar a aprender
- um professor de Pilates tem um conhecimento profundo sobre este sistema e quais os resultados das suas ações nos alunos. Ensinar um novo exercício ou variação, mudar a resistência das molas… são tudo elementos que devem ter um efeito previsível para que o professor tome as decisões correctas em cada caso.
Quem insistir em olhar para o Pilates recorrendo apenas a uma luneta corre o sério risco de achar que os exercícios são pouco funcionais. Ainda que assim possa parecer, todos os exercícios têm por fim último objectivos funcionais e toda a gama de movimentos que integram o Pilates são ferramentas que prepararam o aluno para um treino funcional mais directo: dia-a-dia, actividades desportivas…
O Pilates não é uma moda passageira, não é uma coisa apenas para alguns, e certamente não é algo que se desmonta em três tempos. O Pilates é um património de conhecimento que confere e melhora as capacidades de quem o pratica e serve o propósito de nos fazer sentir no nosso melhor.
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